O Homem e a Máquina
Em preto e branco se desdenha a ferrovia
Anos dourados de notáveis imigrantes
Registraram sua passagem na história
Nos museus de hoje em memórias
O grito mudo preso na garganta
Espojado, aflito, expelidos...
Pelo pulmão da Maria fumaça
Nas plataformas de piso arrogante
Bitucas mal apagadas queimam por dentro
Recolhidas uma a uma sem distinção
A solitária máquina descansa nos trilhos
E os amantes nos bancos das praças
Subordinados a cada segundo
Determinado pelo relógio da velha paróquia
Fio metal em meio à caricatura da nota
Ignoram o romantismo que é andar de trem
A cada vai e vem de um humilde vagão
Um desculpa daqui, um não foi nada de lá
E o Brasil jogou mal? Acabo de fazer vinte e um...
Empresta-me um isqueiro para mais um cigarro
E a beleza da paisagem que ficou para trás
Tem nada não ela volta à semana que vem
Ao abrir a porta mais uma estação
Manoel feio, Itaim, tanto faz...
Desço em Calmon a trabalho
Semana que vem em Ferraz
O apito irritado do trem
No teu colo fervendo queima carvão
Lá pelos lados de Jaboticabal
O saudoso subúrbio de Rincão
Era romântico ver o pôr do sol
Esconder-se por trás dos canaviais
A lua que saltava do algodoeiro
Parecia até jogador do santos!
Para trem! Para trem! Para na estação...
Eu preciso descer pra urinar
Comprar cigarro e salsicha no pão
É tão romântico viajar de trem
A algo em comum entre o homem e a máquina
A frieza como o ferro na partida em ardor
A tristeza da saudade de quem deixou o seu amor;
Existe uma diferença entre o ferro e a carne
A máquina grita por fora expondo os seus sentimentos
O homem grita por dentro sofrendo em silêncio.
Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 09 de abril de 2002.














