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sábado, julho 15

O Homem e a Máquina



O Homem e a Máquina

Em preto e branco se desdenha a ferrovia
Anos dourados de notáveis imigrantes
Registraram sua passagem na história
Nos museus de hoje em memórias
O grito mudo preso na garganta
Espojado, aflito, expelidos...
Pelo pulmão da Maria fumaça

Nas plataformas de piso arrogante
Bitucas mal apagadas queimam por dentro
Recolhidas uma a uma sem distinção
A solitária máquina descansa nos trilhos
E os amantes nos bancos das praças
Subordinados a cada segundo
Determinado pelo relógio da velha paróquia

Fio metal em meio à caricatura da nota
Ignoram o romantismo que é andar de trem
A cada vai e vem de um humilde vagão
Um desculpa daqui, um não foi nada de lá
E o Brasil jogou mal? Acabo de fazer vinte e um...
Empresta-me um isqueiro para mais um cigarro
E a beleza da paisagem que ficou para trás
Tem nada não ela volta à semana que vem

Ao abrir a porta mais uma estação
Manoel feio, Itaim, tanto faz...
Desço em Calmon a trabalho
Semana que vem em Ferraz

O apito irritado do trem
No teu colo fervendo queima carvão
Lá pelos lados de Jaboticabal
O saudoso subúrbio de Rincão
Era romântico ver o pôr do sol
Esconder-se por trás dos canaviais
A lua que saltava do algodoeiro
Parecia até jogador do santos!

Para trem! Para trem! Para na estação...
Eu preciso descer pra urinar
Comprar cigarro e salsicha no pão
É tão romântico viajar de trem

A algo em comum entre o homem e a máquina
A frieza como o ferro na partida em ardor
A tristeza da saudade de quem deixou o seu amor;
Existe uma diferença entre o ferro e a carne
A máquina grita por fora expondo os seus sentimentos
O homem grita por dentro sofrendo em silêncio.


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 09 de abril de 2002.

Gabriele



Gabriele

És mesmo uma Cinderela
Essa tal de Gabriela
A nudez do teu sorriso desaponta
Todo lábio imaginário, toda boca

Faz do possível ao impossível tua beleza
Escraviza todos os olhos invejosos, realeza!
És mesmo uma verdade incrédula
Essa tal de Gabriela

De fato os teus olhos
Contamina outras meninas
De um azul quase morto
Ou um verde que fascina;
Serás mesmo assim tão bela
Essa tal de Gabriela?

Meus olhos não descansam na sentinela
Por causa de ti Gabriela
Tua face confunde a beleza dos Deuses
O mar envergonha-se ao confrontar teu olhar
O céu se esconde dentro do teu habitar

Ao notar uma fraude estúpida do poeta
É certo de que toda beleza não irá se perder
Na teimosia da subordinada esferográfica
Logo pôde sentir na pele
Teu nome tão lindo
Só podia mesmo ser Gabriele.

“Homenagem à Gabriele Villarim Feijó”


Marcelo Henrique Zacarelli
Arujá, 30 de abri de 2008.

Funeral Exótico



Funeral Exótico

Morte que tanto te quero
Gozo-te, pois a mim tu chegaste
Prendo-me a ti, pois de ti sou pedaço
Deveras saber meu eu...

Extirparei de ti
Como noiva arrependida
Lutarei contigo até que vencido
Não mais me resistas;
A propósito! Quando foi mesmo
A última vez que nos vimos?

Mal quero saber
Porque me deténs
As tuas flores a ti eu entrego
As lágrimas de outrem
De ti eu renego

O jovem que sou
Mal podes me reconhecer
Porém quando
Não houver mais jeito
A ti eu me entrego
O que de ti lhe tomei
Emprestado devolver-te-ei
De teimoso viverei alguns dias.


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 28 de agosto de 2003.

Risos Profanos



Risos Profanos

Ria de ti mesma, ria...
Porque não sabes chorar
Não sabeis a hora de contê-la
Nem sabeis a hora de parar

Equilibras-te em um sorriso irônico
Profano e tentador
Porém outro lábio rejeita
Veneno que por ti provado desfez
Mas a ti volta te sorrindo outra vez...

Talvez se pudesses chorar
Aos teus lábios repreenderia
Tal hipocrisia não manifestasse
E nem de ti zombaria

Mas se tu rires
Quem de ti ou por ti choras!
Não é falso o teu sorriso?
São desencontros necessários
De quem por ti jamais fez por merecer. 


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 28 de agosto de 2003.

Todas são Iguais



Todas são Iguais

Ao som da valsa
Um desencontro
E a tristeza no teu rosto
Acompanhada da ilusão
Era mês de agosto
Era solidão...

Ao som da valsa
Ela disfarça
O reflexo adormecido da bebida
A saudade que embriaga
Meia luz do teu quarto
Lucidez que se apaga

Ao som da valsa
Que termina
Outra garrafa esvazia
Sobre a mesa deste bar
Amanhece sexta feira
Ela está sozinha
Quem podia imaginar

Ao som da valsa
Outra briga de casais
Ela volta para casa descontente
Porque todas são iguais.


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 21 de agosto de 2002.

Taça Quebrada


Taça Quebrada

Recolhes em uma taça
Minhas lágrimas choradas por ti
E embriagas por ti mesmo
Em outros lábios que riem de ti

Bebida amarga
Que dos meus olhos saltam
Tão doces como o mel
Por tua boca recolhida
E ao mesmo tempo repartida

Mulher alheia, mulher adúltera
Dividem a mesma dor
A mesma taça prostituída
Cada gole que escorrega pelo chão
Sentimento espatifado

Lá se vão meus pedaços
Meu corpo como o vidro vulnerável
Mistura se ao pó da ingratidão

Talvez este meu corpo
Irrecuperável pelo medo
Volte a se compor com o tempo
Mas as lágrimas que por ti derramada
Elas não voltam jamais
Uma vez por ti esquecida
Causaram-me feridas

Dos meus olhos não bebes jamais
Até que juntes os pedaços do meu corpo
E cicatrize as feridas do meu rosto
Não haverá mais lágrimas
Por ti derramada
Nem haverá mais taça
Que por ti foi quebrada.

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 28 de Maio de 2002. 

terça-feira, junho 20

O Sal da Lágrima



O Sal da Lágrima

Salta do par, e....
Em silêncio declina
Pelo escorredor da face
Descansa tranqüila entre os lábios
Não seca o sal da lágrima doída

Brota em um poço raso e vermelho
Escapa e se perde...
No mapa desenhado pela vida
Antes que uma se vai, outra vem
São filhas bailarinas das meninas

Se por dor ou por amor
Alguém a acordou
Do sono profundo do coração
Dotada de uma química estranha
No lenço ou papel veio absorver em vão

Cava na alma à profunda extorsão
O timbre da voz que tonteia
Balbucia na ignorada mansidão
A lágrima com o tempo insiste a secar
Porém o gosto extraído do sal
Adormece nos lábios de quem a provar.


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 29 de abril de 2008.

Meu Crime



Meu Crime

Pudera recorrer da sentença
Quisera se tivesse a certeza
Que ao julgarem este meu coração
Não encontrassem beleza
Nem tão pouco a condenação

Meu corpo violentado no pecado
Pelo ato consumado de meus pais
Flagelado pelo mal, perante este tribunal
De juízes desleais

O tempo como advogado de defesa
Marcou-me o rosto com rugas desnecessárias
De certo que o meu crime
Era amar quem não merecia
E acabei nesta solitária

Ainda tenho a dor a meu favor
Que simplifica minha maneira de sofrer
Por não se ter identidade própria
Colocando tudo a perder

Se acaso for absolvido
Não me tapem os ouvidos
É preciso ouvir a acusação
Testemunha dos gemidos
Em voz alta do meu coração.

Marcelo Henrique Zacarelli 
Itaquaquecetuba, 26 de agosto de 2002.

Oceano Inoxidável



Oceano Inoxidável

Este mar tão cinza de reflexo suicida
Que mata por alguns segundos
A fisionomia estarrecida

Ondas inoxidáveis de vaidades
Talheres esquecidos
Um oceano de vaidades
Seria um metal reconhecido
Que desconhece este brilho

Seria um aço de mares infindáveis
Um rosto sofrido de lágrimas imagináveis
Feito um rio absorvido
Este céu tão cinza de complexo obsessivo

Esta vontade possessiva
Que me falta por segundos
Este mar inoxidável virtual que mobiliza
De um falso semblante, retorcido num instante
Tal qual um quadro pintado de Mona Lisa.


Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 26 de setembro de 2002.

segunda-feira, junho 19

Janaina Menina


Janaina Menina


Janaina, cabocla menina
Mãe natureza que mais me fascina
Teu olhar cor de jambo, pequena flor
Rainha da beleza e deusa do amor

Janaina pequena, flor menina
Lábios de mel, olhar que ensina
Dama da noite é seu o luar
Vida da mata do sol clarear

Janaina menina, pequena rebelde
Mãe da saudade, do esplendor da relva
Ensina-me a verdade, menina do olhar
Índia pequena teu lindo colar

Janaina menina, pequena sereia
Dona do sol teus passos na areia
Ensina-me o caminho me faz a certeza
Este teu lindo sorriso, menina beleza

Janaina, cabocla menina
Dona do vento, da manhã vazia
Teus cabelos assanhados, tua pele macia
Mãe natureza que mais fascina
Pequena cabocla, Janaina menina.

“Em homenagem a Janaina Alves Feitosa”

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 20 de setembro de 1990. 


quinta-feira, junho 15

Navio Negreiro



Navio Negreiro

Navio negreiro que flutuas no oceano
A caminho da América pesarosa em teu seio
Vestido de negrume és incólume cargueiro
De escravos humilhados, exilados e profanos

Covardes escravocratas, imundos traficantes
Que conduzem a negrada sem destino e sem porte
Húmiles negroides entregues à própria sorte
Infelizes algemados destas dores sois amantes

Negros africanos, fugitivos do próprio destino
És vitima deste negreiro que transporta sofrimento
Do necrófago oceano, torturado e quase morto
Sepultado sobre as águas sem piedade e sem respeito

Entre os livros vasculhados, sublinhados e sem glória
Esquecidos na estante, escrevinhados nesta história
Por sua pele cor negrume, e cabelo esdrúxulo!
Falso júri de vaidade notória
Ignoram o testemunho de um negro sem memória. 


Marcelo Henrique Zacarelli 
Itaquaquecetuba, 29 de abril de 2002.


Yanca de Castro


Yanca de Castro

Yanca de Castro
Meu coração em pedaço
Por causa de ti
Sou um homem devasso
Por causa de ti
Eu não me encontro, não me acho

Yanca de Castro
Parte desta minha loucura
Por causa de ti me perdi na candura
No teu lindo sorriso encontrei a cura

O meu sonho tão devasso
Por causa de ti, Yanca de Castro
Procuro em mim mesmo
E me encontro no escasso

Os meus olhos que fingem
Te olhar sem malícia
És um anjo rebelde, és menina prodígio
És o meu maior pecado
Dentre outros, Yanca de Castro

Por mais que eu queira tentar compreender
Por causa de ti posso até me perder.

“Homenagem a Yanca Carla de Castro”

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 01 de setembro de 2002.

De Ti Talvez



De Ti Talvez

Liberta estas tu de ti e de mim também
E lutas contra todos teus tormentos
Entre tornar a si ou transportá-la, titubeias
Por ser teimosa tenta até o fim

Livra-te de ti e de mim também
Teu passado torto te transtorna e te transforma
Metamorfose tensa
Traga dentro de ti o que de ti te traga
Entregas a mim que de ti me compadeço
Não pranteia tristezas em vão

Traída estás de ti e por mim também
Tens por mérito tão sonhada sorte
Em me ter e torná-la a morte
Antes não tivestes o que de ti tomastes
Liberta estás tu de mim
Mas de ti talvez.

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 21 de agosto de 2003.

Cigarro Amigo



Cigarro Amigo

De bituca em bituca
Nas calçadas desta vida
És falado mal nas bocas
Desta sociedade maluca

És como eu
Consumido a cada trago, e....
Queimando assim por dentro
Até que a cinza nos separe, és assim como eu

És comprado pelos bares e eu pelas urnas
Causando a dependência da cabeça imatura
És comprado como eu pela falta de cultura

Cigarro amigo
A cada suspiro na cadeia de inimigos
És fiel até a morte do primeiro ao vigésimo
São tantos a serem consumidos

Se te lanço dos meus dedos
É que não te quero nos meus lábios
Tua alma em fumaça dispensa da narina
Se te lanço dos meus dedos
És bituca, cigarro amigo...
Nas calçadas desta vida.

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 18 de maio de 2002.

Por Causa Deles



 Por Causa Deles

Sobre a mesa alguns charutos
E uma garrafa de vinho
Eles estavam sóbrios carregados e expostos
Lá fora intermináveis carros pela Ítalo Adami
Eles estavam sóbrios

Acenda mais um charuto
Pois o tempo é curto
Mal terminamos a nossa enquête
Alguém terá coragem para respondê-la?

Sobre um papel branco envelhecido
Eles citaram Blake e Morrison
Eles estavam sóbrios... Sexo e política
Lá dentro intermináveis horas
Eles estavam loucos

O sip fora violado por eles
As garotas tornaram-se impuras por causa deles
Eles estavam sóbrios
A fonte não é mais a mesma por causa deles
Letras e poesias, sexo e ideologia...
Alguém terá coragem para respondê-la?
O mundo não é mais o mesmo por causa deles
Eles estavam loucos.

“Inspirado no amigo Marcelo Martins” 

Marcelo Henrique Zacarelli
Itaquaquecetuba, 20 de fevereiro de 2002.